Quase a chegar ao final de 2014, escolhemos 10 filmes candidatos aos melhores do ano. A escolha será sempre subjetiva, mas procurámos um fio condutor na realização magistral, que a todos toca. Do filme de época ao filme de super-heróis, do filme de amor ao de sublimação, da ficção científica aos frágeis momentos da vida humana, o certo é que nos divertimos, refletimos e fruímos de bons momentos ao longo deste ano cinéfilo. E nem falta um filme português, aclamado internacionalmente em vários festivais.
Eis a nossa proposta:

 

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AMERICAN SNIPER, de Clint Eastwood, tem estreia marcada para o final do ano, mas será certamente um dos nomeados para a próxima edição dos Óscares. O filme conta a história do mais temível atirador de elite americano, Chris Kyle, protagonizado por Bradley Cooper. Bem à maneira de Eastwood, Cooper interioriza, muito mais do que um soldado frio e letal (matou mais de 150 pessoas entre 1999 e 2009, em quatro missões no Iraque, segundo a sua autobiografia), um ser humano que, afinal, também se deixa tocar pela fragilidade da vida.

 

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BOYHOOD: MOMENTOS DE UMA VIDA, de Richard Linklater, é um drama que capta as diferentes etapas da vida de um rapaz de 12 anos, quase em “tempo real”. Os próprios atores surpreenderam-se com o resultado final. Encontrando-se uma vez por semana para as filmagens, ao longo de doze anos, os atores nunca viam as cenas filmadas anteriormente. O resultado é uma espécie de cápsula do tempo onde os espetadores vão envelhecendo com os atores/eles próprios. Os pequenos momentos da vida já tinham antes cativado o júri do Festival de Berlim, que lhe atribuiu o Urso de Prata para melhor realizador. Agora, aí está nas nossas salas.

 

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CAVALO DINHEIRO, de Pedro Costa, surpreendeu não só o público português, mas também o Júri do Festival de Locarno (Suíça), que lhe atribuiu o Leopardo de Melhor Realizador e o Prémio da Federação Internacional de Cineclubes. Ventura, o protagonista, é um cabo-verdiano que do seu bairro, entretanto demolido, já só tem a memória e os fantasmas. Uma memória que se cruza com os fantasmas de Portugal e da sua história recente, nomeadamente, a guerra colonial.

 

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DEBAIXO DA PELE, de Jonathan Glazer, explora as clássicas fronteiras entre o humano e as criaturas alienígenas. Mas, mais do que um filme de género ficção científica, este é um drama sobre a descoberta de uma inesperada humanidade no corpo (e na alma?) de Laura (Scarlett Johansson), a impiedosa caçadora de seres humanos. Um filme que, inevitavelmente, nos recorda aquele já velhinho e distante Blade Runner, de Ridley Scott, e a pergunta que sempre nos atormenta: haverá fronteiras entre o humano e o não humano? O que é ser humano? Perguntas inquietantes, a que nem Glazer nem Johansson, a bem da arte do cinema, se furtam.

 

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FÚRIA, de David Ayer, passa-se nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, com o avanço dos Aliados sobre Berlim. Expectativas? Filme de guerra clássico? Filme para a estrela Brad Pitt brilhar? Ora, precisamente, aquilo que os críticos aclamaram neste filme foi a ausência de expectativas: Fúria é um filme de guerra, mas que esteticamente evoca a claustrofobia de “Líbano”, o filme de Samuel Maoz, e o caos de abertura do Resgate do Soldado Ryan, de Spielberg, com um Brad Pitt a surpreender de maturidade e a ‘dirigir’ emocionalmente um conjunto de atores inteiramente masculino.

 

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GET ON UP: A HISTÓRIA DE JAMES BROWN, de Tate Taylor, não é um típico biopic musical. É muito mais do que isso. É um filme com excelente música, mas é também (sobretudo) um filme sobre o dificílimo sonho americano para os negros do Sul dos EUA. James Brown dá “duro na vida” e o filme, embora com algumas decepcionantes manobras narrativas, acaba por surpreender (e muito) no sua escolha pelo sistema de montagem de “bonecas russas”. Ficamos a pensar se este filme não será filme de época do que parece, com todas as suas implicações políticas e estéticas.

 

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GODZILLA, de Gareth Edwards, é um blockbuster, mas com muito mais do que pancada. O realizador inglês soube recuperar para este clássico a dimensão metafórica e apocalíptica de um monstro que é acordado pelo poder nuclear desencadeado pelo homem. Embora com algumas fragilidades na composição das personagens humanas, Godzilla evoca o mundo contemporâneo e as suas (já) reconhecidas problemáticas tecnológicas, ambientais e humanas.

 

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HOMEM-PÁSSARO, de Alejandro Iñárritu, é um filme-crítica ao mundo dos sonhos e dos super-astros que orbitam a indústria americana do entretenimento. Iñárritu não é americano e, embora não fuja aos estereótipos de Hollywood, detém, mesmo assim, um olhar sarcástico e, ao mesmo tempo, comovente sobre as grandezas e miudezas do showbiz. O homem-pássaro é, antes de mais, um ator que atuou como super-herói e atingiu com essa atuação o auge da sua carreira. A vida rui quando recusa protagonizar a terceira série. Um filme que deixa a eterna dúvida: é a arte que imita a vida ou a vida que imita a arte?

 

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IDA, de Pawel Pawlikowski, é uma pequena joia na qual tropeçamos no meio de tantos bons filmes. Como desperta para a vida uma jovem noviça na Polónia de 1962? Ida é mais uma história de época, mas de profundo fundo humanista. A protagonista, situando-se entre dois mundos antagónicos, o espiritual e o carnal, traz-nos outro tipo de dilemas, o das escolhas e das suas (quase) ocultas razões. Mas, mais uma vez, o que nos encanta não é tanto a história encenada e contada mas a austeridade estética com que é filmada, com uma atenção ao pormenor das personagens que nos lembra a tradição britânica, na qual, aliás, se formou Pawlikowski.

 

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SÓ OS AMANTES SOBREVIVEM, de Jim Jarmush, sobrevive, de facto, aos filmes-vampiro que se instalaram nos últimos anos nos romances para adolescentes e no grande ecrã. É um verdadeiro encanto, outra pérola de Jarmush que, desta vez, nos enfeitiça com a história de um casal de amantes vampiros condenados a deambular através da noites dos tempos. De resto, este filme traz-nos uma insólita mistura, a que o cineasta já nos habituou, entre a cultura pop e materialista, de consumo rápido, a que nem vampiros resistem, e uma sobriedade formal que raia o genial.

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